19 de julho de 2010

As lições de Espinho

Levei, no passado sábado, duas lições. A primeira, e a mais esperada, é a de que não há milagres, e um sexagenário metido com “jovens trintões” e quarentões numa actividade exigente para a qual não tem grande vocação, se arrisca ao desastre. A segunda, é que há sempre algo de novo a aprender, e mesmo da pior catástrofe se podem construir ideias positivas.

O Espinho Open foi uma competição de enorme envergadura, onde tive o privilégio de participar.
Dois universos bem distintos (os IDSF e… os outros) cruzaram-se e coexistiram durante 14 horas, numa maratona em que os maiores galardões deveriam ir para os organizadores e estrutura técnica, pela resistência.
Foi bonito de ver, e de viver.
Não foi tão bonito perceber que o evento não escapou às tricas de capelinha, fruto da menoridade mental de alguns dos poucos, reais ou pretensos, “senhores da dança” em Portugal.
E, de repente, a inesperada lição.
Estava de regresso à bancada, depois de, durante duas horas e meia, ter desopilado numa caminhada através da feia Espinho, quando, disposto a apreciar os mestres, deparei, no corredor à minha frente, com uma cena curiosa:
Um dançarino a aguardar a meia-final IDSF de Clássicas, enquanto na pista se dançava a rumba, começou a fazer leves movimentos numa clara intenção de relaxamento e descompressão. O seu par colou-se, acompanhou-lhe os movimentos, e produziu o mais espantoso momento da noite. Aquilo não era nada… Não era rumba, nem valsa inglesa, não era slowfox nem sequer “slowwolf”.
Não havia planos nem regras, não havia técnica nem expressão, não havia postura nem atitude – os corpos iam na doçura da música, ele movendo-se ao sabor do improviso, ela replicando o movimento, algo entre sombra e reflexo, apenas com a suave movimentação da cabeça dando elegância e sentido ao nada que estavam a fazer.
Por inspiração, hábito, ou apenas porque sim, os movimentos dele eram aqueles que a cabeça dela sugeria, numa identificação, numa simbiose, apenas sintetizáveis na palavra prazer.
O deleite durou menos de um assombroso minuto, e quando ganhei coragem para chamar a atenção da Fernanda esfumou-se com a suavidade com que surgiu, garantindo-me o exclusivo da sua fruição.
Quando, mais tarde, a outra esperada lição me levou a equacionar se não teria chegado a inevitável hora do “era bom mas acabou-se”, a segunda varreu de imediato qualquer dúvida – está na hora de ir ao reencontro das origens.
Entrei na dança pelo prazer da dança, e pela oportunidade de partilhar com a Fernanda uma actividade de que ela gosta, no mínimo, o mesmo que eu.
A passagem à competição veio depois e naturalmente, por influências do grupo, e foi extremamente importante, pelo nível de exigência que a nós próprios tivemos que fazer.
Pressionados pelos resultados esquecemos o ponto de partida, e concentrámos no “trabalho” todos os esforços. Tinha mesmo que ser, pois só o muito trabalho permite, na segunda metade da vida, chegar perto daquilo que, na idade da aprendizagem se consegue natural e espontaneamente.
A verdade, no entanto, é que ao ver aquele par holandês a viver o momento, me questionei a mim próprio onde iam já os tempos em que era aquilo, exactamente aquilo, que eu buscava na dança.
Não. Ainda não está na hora.
Antes de parar, ainda falta regressar às origens, recuperar o prazer da dança sem exigências, mas tentá-lo na situação aparentemente paradoxal de o fazer sem prescindir do nível de melhoria que sustente a continuidade neste grupo a que não pertenço mas onde me sinto bem.
Aí está um desafio novo para os próximos treinos. Obrigado, Hem Spilker & Darja Bokhove, o vosso 17º lugar foi a mais gritante das injustiças – eu dei-vos o primeiro.
Só que para vosso ( e meu) azar… eu não conto.

5 de julho de 2010

Museu Malhoa

Já no ano passado tínhamos dançado no Museu Malhoa - nada de especial, algum público que se empilhava de encontro a paredes nuas, e nós no meio, a tropeçar uns nos outros para não atropelar o corajoso público.
Desta vez foi diferente - menos público, segura e confortavelmente sentado num topo de um sala... uau!
O espaço continuava a ser pequeno, mas a arte a voltear à nossa roda, a dignidade impressiva do ambiente, foram inesquecíveis.
Cometemos um erro - não contando com a mudança de espaço, apresentámos apenas danças latinas, quando o ambiente "exigia" fatos formais e danças clássicas.
Em Agosto faremos nova apresentação, e não estando ainda definidos os pares que nos representarão, não sei se irei. Uma coisa sei: se fôr, seguramente irei executar danças clássicas.
Algumas fotos com a qualidade possível naquela luz suave estão disponíveis no Picasa.

1 de julho de 2010

Novela da Madeira